Sofia, tu sabes

já passaram alguns dias desde que nos deixaste and yet, as palavras não saem. já construí mil textos na cabeça and yet, nada flui. esta é a primeira vez que tento pô-las “em papel”. não sei o que sinto, se calhar devia escrever com o coração, mas também acho que não sei como é que isso se faz. também acho que não preciso de escrever nada, porque “tu sabes”. dizem que escrever ajuda a encerrar ciclos, o que é que quer que isso queira dizer. mas eu não quero fechar nada, quer deixar tudo aberto, não quero que morras em mim. quero sempre recordar-te e sempre elogiar-te e sempre sentir que tive uma sorte do caraças por me teres escolhido para ser tua amiga, ainda não sabíamos nós quase nada da vida. ou talvez já soubesses tu, Sofia, tudo, assim que nasceste. dois meses antes de mim, nasceste, e os teus pais já sabiam que te irias chamar Sofia. Sofia, conhecimento, sabedoria. o que talvez ninguém soubesse era que irias tocar tantos e tão poucos, com a leveza do teu corpo e da tua presença, o abraço do teu sorriso, a alegria das tuas gargalhadas, a sensualidade e a doçura da tua voz, o carinho das tuas palavras queridas e a tua liberdade. não existem palavras escritas em papel com som, nem encontro palavras capazes para descrever tudo o que tu és, ou o que és em mim. sei, agora, ou sempre soube, que não és só minha, que habitas em todos aqueles que tiveram a sorte de te conhecer, ou todos aqueles que escolheste para fazerem parte da tua viagem. graças a ti, e só graças a ti conheci pessoas lindas. a eugenia, a helena, a natasha, etc, etc, etc. e o que é que há de mais maravilhoso neste mundo senão as pessoas? também descobri a magia da fotografia no laboratório que o teu pai tinha na garagem. vês? tu sabes! tanto do que sou, sou graças a ti. não escalamos montanhas juntas nem subimos à torre Eiffel, não passamos férias na Cote d’Azur, não estivemos deitadas na terra a olhar o ceu estrelado, não ouvimos o correr do riacho até ao mar, não fizemos o azul. talvez tenhamos visto a heidi juntinhas, não sei, não me lembro. tu sabes o quanto a minha memória é traiçoeira. e por falar nisso, foi por isso mesmo que imaginamos a covitrine como um medicamento para o esquecimento. tanto que ficou por fazer, tanto que ficou por gravar, por escrever, por cantar. tomamos muito café juntas, isso sim. eu por cá fico, mais um bocadinho, a fazer cafés em máquinas italianas ao lume dum fogão a gás e a tentar escrever cartas de amor. e teses. e contos e histórias. fico só mais um bocadinho para fazer tudo o que te prometi, ainda que nunca tenha sido sequer pensado quanto mais dito, mas tu sabes, como só tu dizias “oh, tu sabes”. até já, meu grande amor.





 

photographia


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